quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Escassez

Deixei o tempo me levar...
pra onde... 
o vento quisesse...
saindo em noites...
madrugadas...
voltando sempre... 
bem depois que amanhece...

Nos bares...
tragos de álcool e tabaco...
e outros tragos a surgir...
trago, as palavras... 
trago, os versos...
trago, os lábios, das moças...
a sorrir...

Na degustância...
do tragar da vida...
tento trazer...
somente, o que sustenta...
Trago, o que me esfria...
enquanto quente... 
e quando esfria...
o que me esquenta...

Trago... 
as cores da primavera...
e as flores...
trago-as em buquês...

Trago...
no silêncio da noite...
a certeza...
de mais uma vez...

Aos...
olhares curiosos das janelas...
trago amores...
hoje em escassez...

Duka Souto


terça-feira, 21 de agosto de 2012

Na estrada... um verso... só... verso...

Eu escreveria um verso,
para a estrada sinuosa...
ou pra moça, lá da frente...
e sua face formosa...

Escolhi fazer só verso...
simples, como o papel...
cru, fino e seco...

Iluminado como a rua...
e escuro como um beco...

Vazio que nem bambú...
lotado que nem busão...
pesando que nem bigorna...
e tão cheio que chega esborra...
mas voa que nem Azulão...

Um verso feito a noite...
na espreita, no açoite...

Um verso feito o dia...
tão volátil quanto o éter...
e com cores derrentendo...
como em pura lissergia...

Um verso feito a tarde...
o dourado do sol arde...

E na chegada do luar...
o azul da noite invade...
com estrelas, cintilantes...
e os sorrisos das moças dançantes...
pelas noites a trabalhar...

Duka Souto

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Nada Brota

Queria ter o poder...
pra fazer o tempo voltar...
mudar ia minha mente...
minhas ações e meu pensar...

Quem sabe hoje ainda teria...
no meu vaso aquela flor...
ter de volta a primavera...
que o inferno frio levou...
e vê de minha própria janela...
o colibri beijando a flor...

Não teria como hoje...
a cor cinza a minha volta...
muito menos um vaso vazio...
onde a vida já não brota...


Duka Souto 

domingo, 12 de agosto de 2012

Pai...

Exatamente...
sendo igual...
mesmo muito diferente...
o que um dia serei, também...
o tal... o cara...
a figura do espelho...
o palhaço, o herói...
sempre sem super-poderes...
o das histórias...
dos, dizeres...
o dos concelhos...
e dos silêncios...
o louco que lê...
por muitas vezes...
o que ouvi, dito pelo vento...
coisas que por ventura, penso...
o que observa meu sonhar...
o que me cuida...
e me faz chorar...
o que ao soar o violão...

faz Mainha, cantar...
e vice-versa é que eu digo...
com ela fiquei no umbigo...
depois o mesmo, Bruxo-velho...
sendo um pouco ainda mais novo..
me mostrara, por vezes, ao pescar...
na maré-suja, o arremesso...
que mais tarde... era...
defronte ao mar...
foi comigo pegar jacarés...
e no peito, me fez mergulhar
em Gaibú...
nos verões e invernos...
me ensinou a passar por infernos...
e por céus...
onde tudo era azul...
essa alma,
cuja voz acalma...
mesmo sendo o maior dos Nervosos...
que conquista com os olhos estirados...
os ouvidos de velhos e novos...
o ar que move a corrente...
deste ser feito d'água e repente...
e que sente uma saudade imensa...
deste besta que escolhe estar longe...
sabendo mesmo que lhe consome...
e está certo: _ a saudade compensa...
e está certo de que sempre vai...
com amor, falar sobre seu Pai...


Duka Souto..