sexta-feira, 25 de abril de 2014

Vaga

Vaga pela madrugada
tudo que me traz saudade
noites de outono
regadas a vinho
bom som de vinil
acompanhado do calor dela

Vaga pela madrugada
a saudade de pisar
no chão de taco
e andar espirrando
o chão frio
a cozinha apertada
as panelas de tampa de vidro
a ausência de carnes terrestres
no meu cardápio
de casa

Vaga pela madrugada
o grito desse silêncio
imerso na saudade
da primavera de uma flor
apenas uma
que todos os dias
abriu-se bem como os olhos
e fechou-se quando cansou do dia
mas tornou a florescer-se
dia após dia
na cor vermelha
e apenas ela
nesse lembrar
a via.

Duka Souto

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Amor e prata.

O tempo passa,
a prata escurece, e
por debaixo da oxidação,
é onde ainda reside,
o belo, o brilho, a riqueza,
a simples, porém eterna,
a prata.
Ela é como um amor.
Mesmo depois, mesmo
tendo-se distanciado,
tendo ficado longe dos olhos,
longe dos ouvidos,
do olfato, do tato;
ele, é tão brilhante,
tão simples, rico,
belo, eterno.
Apenas amor.

Duka Souto.

quinta-feira, 6 de março de 2014

Quarta de Cinzas.

Eu a retornar,
numa alvorada de quarta.
De frente pro sol,
de farol a farol, da Barra a Itapuã.
meu amuleto,
meu dialeto, meu talismã.
Dessa sereia,
e o dia incendeia-me
pra ser poesia.
No instante presente,
enquanto desejo ao todo,
é que recebo do todo,
também um bom dia.

Duka Souto

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Nostalgia

Escorre
o vento
molhado
o suor
refresca
e a pele
sorri
a graça
da brisa
com a nostalgia
das madrugadas.

Duka Souto

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Meu Pernambuco

olha em frente, vê
tanta gente passando
e em cada passada saudosa
clarins vem junto tocando
anunciando à multidão
a pressão do som
acelerando o coração
é porreta, meu bom
fecho os olhos me pego
no passo do mameluco
to com saudades, não nego
meu carnaval, meu Pernambuco.

Duka Souto.

Serena

quando o poeta acorda seco
mesmo tendo sonhado ser poesia
sente-se encurralado num beco
daqueles que ninguém saía
no escuro, no breu, no preto
sem saber da luz do dia
então dele brota um verso
simples, nem côncavo ou convexo
e um brilho vem lhe clarear
nascendo um novo poema
olhos que misturam céu e mar
e o sol esquentando a cena
pondo-se de novo a sonhar
com os lábios da moça serena.

Duka Souto.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

S.a.turno

ela diz que está juntando dinheiro
para comprar um terreno em Saturno.
e minhas asas de anjo noturno
pairando num vôo leve, maneiro
a voar pelo mundo da lua
iluminado pelo sol distante
gravitando em torno da terra
observo seus anéis planetários
rodeando a mesclada esfera
escrevendo o pensar solitário
sonhando acordado com ela.

Duka Souto

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Poesia

Tem gente, que não compreende a poesia
e acha tudo uma babaquice sem tamanho.
Mas não enxerga, na verdade que a tolice;
é não saber, como agir, com algo estranho

Se algo esse, ainda, era chato na escola:

_Porra nenhuma, merda de literatura!
Isso é viagem de quem não tem o que fazer!
Não dá dinheiro, não está à minha altura!
O que preciso mesmo é comprar, e me vender!
Pra me sentir alguém, se alguém pedir esmolas!

Talvez por que conhecimento trabalho
e a preguiça, gera a reprodução
da fala fácil, que a massa adora tanto
e se escraviza nessa falta de expressão.

Duka Souto